31.3.11

eu tinha um amor

o amor tirou férias de mim. ou será que fui eu que tirei férias dele? não sei, talvez nunca saiba. mas algum de nós foi pra bem longe do outro. japão, tunísia, filipinas: qualquer lugar distante. ou não tão distante assim, já que ainda o sinto. de onde estou, ainda posso ver o mesmo céu que ele. esse mesmo céu que um dia olhamos tantas vezes juntos.

o amor costumava estar sempre aqui. ou será que teimei em acreditar nisso? não sei, quem saberá? mas ele me trazia flores, ainda que de mentira. me trazia contos, me arrancava sorrisos. ele me contava cada segundo do seu dia. e me fazia cafuné. tem como não acreditar num amor que faz cafuné?

o amor era melhor. ou será que nunca cheguei a conhecê-lo de verdade? não sei. e isso eu nunca vou saber. nunca vou saber se aquelas frases tinham significado. se as lágrimas eram reais. se os nossos planos de um dia ser eterno tinham garantia. e, ainda que tivessem, agora já não importa.

o amor passou da validade.

[ ♪ I'll try anything once - porque eu ainda teimo em acreditar que sim)

15.3.11

vôo

é tão estranho lembrar da minha mão congelando e você a segurando bem forte pro frio passar. é estranho saber que você estava lá. que aquela viagem que deveria ser minha passou a ser nossa. que o dia que você chegou foi o mais bonito, até fez sol, e que o dia que você se foi choveu sem parar dentro e fora de mim. lembro da gente caminhando por cada ruazinha, sem acreditar que a vida era tão possível. e de você me ensinando como eram as coisas do outro lado do mundo, enquanto eu ouvia cada palavra sem acreditar. lembro da gente perdendo moedas e moedas pro telefone público, aquele espertalhão, mas que era tão divertido... e lembro do dia que compramos cereja e olhamos sapatos e conhecemos aquele cara bacana. e que as paisagens eram mais bonitas vistas pelo mesmo ângulo por olhos diferentes. lembro de mim, de você, dos vinhos e risos. lembro do meu choro e de como pude ser boba (pena que você não sabia que era puro medo). lembro da tarde inteira deitados no parque cantando qualquer música que você adora. lembro da gente dizendo que nunca ia esquecer. e de novo me vem a estranheza de saber que aquilo tudo foi tão nosso, mas ficou guardado comigo. e mais ainda, a estranheza de saber que eu nunca tive a oportunidade de te dizer tudo isso, porque lá do outro lado também ficou a nossa última chance. e o bilhete que me levava até ela se perdeu no meio do caminho.

2.3.11

o homem que comia metáforas

o homem comia metáforas para não viver são
o homem comia metáforas para viver sendo
sendo moço que pisa na lua
sendo lua que pisa no chão
engolia frases inteiras
e ainda pedia sobremesa
o homem comia metáforas para digerir a solidão


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