30.8.10

relendo um antigo poema da adélia prado, lembrei de como é bonito amar por amar e somente amar.

"há mulheres que dizem:
meu marido, se quiser pescar, pesque

mas que limpe os peixes

eu, não! a qualquer hora da noite me levanto

ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar

é tão bom, só a gente sozinhos na cozinha

de vez em quando os cotovelos se esbarram

ele fala coisas como "este foi difícil"

"prateou no ar dando rabanadas"

e faz o gesto com a mão

o silêncio de quando nos vimos a primeira vez

atravessa a cozinha como um rio profundo

por fim, os peixes na travessa

vamos dormir

coisas prateadas espocam:

somos noivo e noiva"


tem dessas coisas.
você sabe que começou a se importar menos quando prefere deixar o telefonar tocar sem saber quem era.

24.8.10

rua do encontro

naquela rua tinha um moço
naquele moço tinha um rio
naquele rio tinha um barquinho
e no barquinho, solidão
na solidão tinha uma moça
naquela moça, esperança
na esperança tinha sonhos
naqueles sonhos tinha vida
naquela vida tinha uma rua
naquela rua tinha um moço

23.8.10

sim

não mais ansiedade pré-chegada
não mais saudade pós-partida
não mais amores de fim de tarde
não mais abraços de fim de noite
não mais caminhadas cantadas
não mais silenciosos afagos
não mais mesa de bar
não mais quarto e sala
não mais risadas de olhos tão fechados
não mais choro de ouvidos tão abertos
não mais eu, não mais tu
não mais nós


não, mas vai ser melhor.