25.12.14

quando se esquece, já nem se lembra

juro que "só lembrei porque você tocou no assunto". juro que foi coincidência. juro que tanto faz, pra mim. juro que "pode chamar ele". juro que é verdade o juramento, mesmo sabendo lá dentro que não. você não esqueceu.

a campainha toca. será que é pra mim? o telefone chama. será que é ele? vou por essa rua. ou será que ele vai passar por outra? vou com essa roupa. mas ele prefere aquela. pensei em viajar, mas ele vai ficar. quero sair com meus amigos, mas marco com os dele. você não esqueceu.

meu aniversário. mil telefonemas. cinqüenta mensagens. tem até telegrama e nada dele. festa, presentes, música, bebida. muita gente ao redor, menos ele. prometo que vou me divertir. me divirto. mas falta algo. você não esqueceu.

virada do ano. lista de desejos. post de retrospecto no facebook. nas entrelinhas, ele. mas não tanto quanto antes. ainda bem, acho que esqueci. fogos, champanhe, garoto interessante na festa da casa do amigo. paquerei. paquerou. onde será que ele tá? beijei. beijou. você não esqueceu.

carnaval. com que roupa eu vou? hoje tem bloco. tem, sim, senhor. vai ter gente bonita. preciso caprichar. cerveja na esquina no esquenta. amigos passando. sorrisos e abraços apertados. os amigos dele também estão aqui. acho que tanto faz. maquiagem no rosto feita na rua. xixi na calçada. purpurina e amor. acho que esqueci. você não esqueceu.

meses depois. nem sei quanto tempo. aniversário dele. nem lembrei e não preciso jurar. mesmo assim, juro. som do whatsapp. vai ter uma festa e todo mundo vai. não sei se vou, tô bem em casa. o celular chama de novo. ok, vou tomar banho. troco de roupa. escolhi exatamente a que eu quero. será que vão gostar? não importa. será que passei perfume? nem lembro.

6.7.13

desencontro VI

ela morria por dentro,
ele vive por fora.

desencontro V

ela era transpiração,
ele era translucidez.

10.6.13

desencontro IV

ele era 5 em ponto,
ela era só mais 5 minutinhos.

7.5.13

reparo

você sem
olhar pra mim
sem você

4.4.13

desencontro III

ele fazia matemática,
ela não calculava as consequências.

28.2.13

quem é essa mulher?

ela fumava muito, ela não fuma mais
ela é tão jovem
ela gostava muito, ela não gosta mais
ela mente
ela passava muito, ela não passa mais
ela é presente


[ao som de "ela ela" em um trânsito típico de quinta-feira pós-expediente e um bloco de notas nas mãos]

devaneio

enquanto escova os dentes, laura pensa - com duas afirmativas sem nexo algum, embora minimamente conectadas: "saudade é coisa antiga e, quando viajo, meu programa favorito é visitar museus".

19.2.13

tomara

tomara que o tempo passe, sim, mas não apague.
que o coração aquiete, mas continue batendo forte.
que as lágrimas sequem, mas nunca sumam.
que a dor descanse, mas sirva de lição.
que a gente se perca, mas volte a se encontrar.

31.1.13

dueto II

já cansei de apelar pros astros,
bulas, dogmas, anúncios e signos
ainda acredito em algum orixá,
mas nem isso tem resolvido
cansei das músicas de chico
- caetano, rita, joão -
e tenho pensado que duetos só existem
quando pinta a solidão

30.1.13

quem sabe?


talvez você gostasse de ficar. de conhecer meu quarto novo, de rabiscar comigo as paredes brancas e escolher a trilha sonora da manhã seguinte. talvez você gostasse de saber que prefiro banho de água gelada, mesmo quando tá frio. que coloco um, dois, três despertadores pra não chegar atrasada. que tenho um ritual pra me arrumar, mas ele deve ser mais curto do que o da maioria das meninas. talvez você gostasse do meu café com muito leite, da minha maneira desastrada de abrir a porta e destravar o carro. talvez você gostasse se dessa vez eu escolhesse a trilha sonora, mesmo se fosse aquela banda que você julgava chata. talvez gostasse do meu cabelo ventando e da quantidade de vezes que me olho no espelhinho do retrovisor até chegar lá. ou talvez fizesse piada, me chamando de narcisista. talvez gostasse de saber que fiz questão de chegar na hora parecida com a que você chega e que coloquei o sapato que você mais gosta. talvez você gostasse de saber meu sonho da noite passada e que não gosto de dormir só. talvez você gostasse de dormir comigo ou de passar a madrugada acordado falando qualquer bobagem. talvez fosse sim, antes de ser não. 

29.1.13

[...]

estica essa noite, o fim de semana, os teus braços - até eles me tocarem. estica o papo, o beijo, o riso tão lindo e os segundos entre um piscar de olhos e outro. estica o texto no chat, o abraço e a piada, pra eu poder rir por mais tempo. estica a fala, pra ser mais doce. estica o silêncio, pra eu te observar melhor. estica aquela música no violão, o trago no cigarro e os passos - adoro quando a gente chega ao mesmo tempo no corredor. estica os detalhes da tua viagem preferida e a história da banda que você mais gosta. estica o tempo do cafuné e aproveita e estica o lençol pra me caber também. estica o sono, porque ver você dormindo é tão bom. estica a hora do pedido, o pagamento da conta e o caminho, pra demorar mais um pouco até eu chegar em casa. estica qualquer coisa, mas diminui esse espaço entre nós dois.

27.1.13

fora do ar

o mundo é cão.
eu já tinha lido sobre isso em algum lugar,
mas não lembrava que na prática, a teoria é igualzinha
o mundo é cão e latimos por todos os lados tentando comunicação
estamos mudos. surdos. loucos.
ligo a televisão, mudo de canal, desligo no minuto seguinte
um aperto no coração entrega o futuro: não temos cura.
o que fazemos, então?
o mundo é vão.
pior que isso: somos vãos.

10.12.12

tudo (hai)kai

vai ver
não tem nada
a ver

desencontro II

ela era dia inteiro,
ele era vez em quando.