16.2.11

se você deixasse

eu o teria amado. de manhã, de tarde, de noite. no café, no almoço, no jantar. com sobremesa ou sem. eu o teria amado numa mesa de bar, num café, numa mesa de jogo. na sala, na cozinha, no elevador. no quarto de trás. eu o teria amado com música ou sem música. nas brigas, nos trotes, nas mentiras. eu o teria amado aqui, ali, acolá. eu o teria amado devagarinho. ou bem apressada, pra não dar tempo de você ir embora. nas entrelinhas, nos textos que li e não li. eu o teria amado à meia-noite. na parada de ônibus, na longa espera entre uma hora e outra, nos passos da minha casa à sua. eu o teria amado dentro de um avião. eu o teria amado na madrugada inteira até o dia chegar. nos postes, nos muros, nas calçadas. eu o teria amado de trás pra frente. eu o teria amado de costas. no primeiro bom dia, no adeus de até amanhã. eu o teria amado quando fosse quase fim de noite e nada tivesse dado certo. no escuro, no sol, à meia luz. eu o teria amado baixinho, quase calado. eu o teria amado gritado. eu o teria amado louca, desesperada e sem jeito. mansa e docemente. eu o teria amado sem fim.

14.2.11

(des)encontro

eu não tinha marcado nada com você. por mim, eu teria faltado ao dia que você apareceu na minha vida pela primeira vez. mas a gente não escolhe essas coisas. e lá estávamos eu e você, num fim de semana qualquer, sentados na mesma mesa de bar unidos por um destino que sequer perguntou se eu queria aquilo. mas aí já era tarde demais. e, para melhor ou pior, eu gostei de você. gostei do seu jeito despreocupado de falar sem se importar com o que os outros iriam pensar. gostei de você não ligar de voltar tarde da noite pra casa e a pé. até aí tudo bem, quando uma pessoa gosta da outra, elas podem ser grandes amigas, certo? mas, não. o destino novamente entrou na frente de tudo e se meteu, fazendo com que a sua casa ficasse perto da minha e o seu jeito manso de falar combinasse com a minha risada escandalosa. aí, mais uma vez, já era tarde demais. e tarde da noite, sentados no mesmo banco, eu descobri que não tive escolha e, não podendo escolher, me apaixonei. me apaixonei porque as horas passavam tão rápido do teu lado. me apaixonei porque a gente conseguia rir mais do que falar e eu achava lindo poder ver seus olhos se fechando e duas covinhas se formando nos cantos do rosto. me apaixonei porque passei a contar as horas de novo, esperando a hora do interfone tocar e alguém gritar "é pra você". e aí eu tive escolha e escolhi você. e quando eu tava aqui, pronta pra ser sua, você decidiu ir embora. eu não tinha desmarcado nada com você. por mim, eu teria faltado ao dia que você desapareceu da minha vida pela última vez.